Alerta: Metanol — o que é, como age no corpo, por que tem causado intoxicações em SP e o risco vindo de suplementos adulterados

Palavras-chave: metanol, intoxicação por metanol, metanol São Paulo, suplementos adulterados, risco à saúde, formiato, fomepizol, consultoria nutricional

Sumário

• O que é metanol?

• Dados e cenário atual no Brasil e em São Paulo

• Fisiologia detalhada: como o metanol prejudica o corpo

• Quadro clínico e sinais de alerta

• Tratamento: o que a medicina faz (e por que é urgente)

• Suplementos adulterados no Brasil: apreensões e risco real

• O que nutricionistas e consumidores devem fazer — checklist prático

1) O que é metanol?

O metanol (álcool metílico) é um álcool simples usado como solvente, anticongelante e na indústria química. Não é indicado para consumo humano. Quando ingerido, mesmo em quantidades pequenas, pode causar danos graves ao sistema nervoso central, retina (cegueira) e levar à morte.

2) Dados e cenário atual no Brasil e em São Paulo

Nas últimas semanas o Brasil registrou um surto de notificações de intoxicação por metanol relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. Segundo boletim do Ministério da Saúde, houve centenas de notificações notificados, com dezenas de casos confirmados e óbitos sob investigação — São Paulo concentra a maioria dos registros. As atualizações oficiais mais recentes indicam centenas de notificações (dados consolidam-se diariamente pelo CIEVS). (Dados atualizados aqui)

Reportagens locais apontam casos confirmados e mortes em bairros específicos de São Paulo (por exemplo, mortes registradas na Mooca), o que motivou investigações da polícia e ações de vigilância sanitária.

3) Fisiologia detalhada: como o metanol prejudica o corpo

Aqui explico quase como numa aula curta de bioquímica clínica, mas simples o suficiente para o público do blog.

1. Absorção: o metanol é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal (se ingerido) e também pode ser absorvido por via cutânea ou inalatória em exposições ocupacionais. Medscape

2. Metabolização (fator-chave): no fígado, o metanol é convertido em formal­deído pela álcool desidrogenase (ADH); o formaldeído é rapidamente oxidado a ácido fórmico (formiato) pela aldeído desidrogenase. Esses metabólitos — especialmente o formiato — são os principais responsáveis pela toxicidade. CNI Biotecnologia

3. Mecanismo de dano celular: o formiato inibe a citocromo c oxidase (complexo IV da cadeia respiratória mitocondrial), interrompendo a fosforilação oxidativa → queda na produção de ATP → falha energética celular. Tecidos com alta demanda energética (córtex cerebral, retina/ nervo óptico) são particularmente vulneráveis, explicando os sintomas neurológicos e o dano ocular que levam à cegueira. Além disso, o acúmulo de ácidos orgânicos provoca acidose metabólica anion-gap. CNI Biotecnologia

4. Latência e progressão: há um período de latência (horas) entre a ingestão e o aparecimento dos sintomas porque o metanol precisa ser metabolizado a formiato; a gravidade depende da dose ingerida, velocidade da metabolização e do tratamento precoce. Medscape

Resumo prático: metanol → (ADH) → formaldeído → (aldeído desidrogenase) → formiato → inibição mitocondrial → acidose + dano ao nervo óptico e SNC.

4) Quadro clínico e sinais de alerta

• Início: náusea, vômito, dor abdominal, cefaleia, tontura, tonturas.

• Sinais clássicos de alerta (quando há suspeita): visão turva, sensação de “luzes” ou perda de visão (mancha escura), alterações do estado mental, respiração rápida (pela acidose). A combinação de depressão do nível de consciência + acidose metabólica + alteração visual é altamente sugestiva. Medscape

Nota clínica importante: pequenas quantidades (relatos clínicos indicam que ~10 mL de metanol puro já são suficientes para causar cegueira; doses maiores podem ser fatais) — por isso qualquer suspeita de ingestão exige avaliação emergencial. MSF

5) Tratamento: o que a medicina faz (e por que é urgente)

As intervenções médicas visam impedir a formação de metabólitos tóxicos, corrigir a acidose e remover metanol/formiato do sangue:

1. Inibição da ADH — antídotos:

   • Fomepizol (inibidor competitivo da ADH) — tratamento preferencial quando disponível. New England Journal of Medicine

   • Etanol (uso como "antídoto competitivo") quando fomepizol não está disponível. AJKD

2. Correção da acidose — bicarbonato intravenoso quando necessário.

3. Remoção por diálise — hemodiálise (ou hemodiálise contínua) é indicada em intoxicações graves para remover metanol e formiato rapidamente. AJKD

4. Suporte e cofatores — ácido folínico/ácido fólico para acelerar a conversão de formiato a CO₂ e água; suporte ventilatório e cuidados intensivos conforme necessário. New England Journal of Medicine

Por que agir rápido? Porque a janela para evitar dano ocular irreversível e morte depende do bloqueio da formação de formiato e da correção da acidose — por isso a recomendação de procurar emergência imediatamente ao menor sinal após ingestão suspeita. CNI Biotecnologia

6) Suplementos adulterados no Brasil: apreensões e risco real

Nos últimos meses houve operações policiais e ações da vigilância sanitária que apreenderam toneladas de suplementos alimentares irregulares produzidos em instalações clandestinas — muitos comercializados por marketplaces e lojas online sem registro/registro sanitário. Em uma operação recente no interior de São Paulo foram apreendidas aproximadamente 4 toneladas de whey, creatina e outros produtos sem certificação; a Anvisa proibiu lotes e determinou recolhimento de suplementos de origem desconhecida. Essas cadeias ilegais podem usar solventes, adulterantes ou matérias-primas impuras que aumentam o risco de contaminação por substâncias tóxicas, ainda que nem todos os lotes apreendidos indiquem presença de metanol especificamente — o cenário aumenta a probabilidade de exposição a produtos perigosos. Diário do Comércio

Pontos importantes:

• produtos sem registro Anvisa ou com rotulagem irregular são alto risco;

• venda em marketplaces e redes sociais facilita o alcance de produtos clandestinos;

• a presença de metanol em bebidas adulteradas tem sido a principal causa das intoxicações recentes, mas a adulteração de suplementos é outra frente de risco que exige atenção. Diário do Comércio

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7) O que nutricionistas e consumidores devem fazer — checklist prático

Para consumidores / atletas:

• Compre suplementos apenas de marcas registradas e com registro Anvisa (verifique o rótulo e o CNPJ). Serviços e Informações do Brasil

• Evite produtos vendidos em embalagens sem identificação ou preços excessivamente baixos (sinal de alerta).

• Guarde embalagens e notas fiscais — em caso de suspeita, isso ajuda a vigilância sanitária.

• Se sentir sintomas após consumo (visão alterada, náusea intensa, fraqueza), procure emergência imediatamente e informe o consumo do produto. Medscape

Para nutricionistas e profissionais de saúde:

• Oriente pacientes sobre risco de comprar “promoções milagrosas” em marketplaces; eduque sobre leitura de rótulos e certificações.

• Tenha um fluxo de ação: orientar paciente a procurar emergência e avisar vigilância sanitária caso haja suspeita de produto adulterado.

• Considere criar uma checklist de fornecedores aprovados e de verificação de lote para clientes que compram suplementos com frequência.

Produtos recomendados (links seguros):

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